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Concepção Yoruba do Mundo

A princípio, como todas as religiões primitivas, a religião yorubá é completamente absorvente. Cada momento da vida das pessoas está marcado por observações religiosas. Os yorubás vivem, permanentemente, com o sentido consciente de seu parentesco com os poderes ocultos. Pode-se dizer que eles vivem, comem e morrem religiosamente.

A religião é inteiramente animista. O misterioso, o não familiar e as grandes forças da natureza são considerados como dotados de espíritos. Seus agentes possuem formas peculiares e poderes sobrenaturais, que os distinguem como objetos de veneração a antepassados, veneração esta, já realizada por nossos ancestrais.

O conceito yorubá do mundo está representado por dois reinos diferentes, ainda que inseparáveis: AYÉ, o visível, o mundo concreto em que vivemos, e ORUN, o invisível, o reino espiritual dos ancestrais, orixás e espíritos.

Esta concepção é, freqüentemente, visualizada como uma cabaça esférica, cujos hemisférios superior e inferior são como duas cuias intimamente ligadas. A superfície central plana é uma bandeja redonda, divina, dentro da qual esta cultura representa animais, símbolos e pessoas.

Estudiosos desta religião analisaram imagens encontradas em Benin que datavam do século XII. No perímetro da bandeja havia, incrustados, desenhos retratando eventos místicos e pessoas em seus afazeres do cotidiano, tudo isto descrevendo um universo povoado por forças competitivas.

Os sacerdotes de Ifá ou adivinhos, dentre seus instrumentos de trabalho, possuem uma bandeja de madeira, chamada OPON IFÁ, que representa o mundo. No sistema adivinhatório, o sacerdote, antes de começar, cobre sua superfície com um pó, chamado EYEFA, que representa a terra. Em seguida, traça um risco duplo com dois dedos, a partir da borda central inferior para cima, simbolizando as estradas metafóricas (ORITA META), ponto de interseção entre os dois mundos. Estas linhas são feitas pelos adivinhos, com o objetivo de abrir canais de comunicação, antes de começar a revelar as forças de trabalho e interpretar seu significado para uma pessoa, família, grupo ou comunidade.

Os yorubás vêem o mundo como um círculo com linhas que se entrecruzam. Existem estudos de imagens e desenhos com implicações temporais, que dão a medida do conceito yorubá do passado, como sendo essencial para conhecer o presente. Acredita-se que a pessoa vive, morre, renasce e que cada indivíduo origina de um dos seus ancestrais materno ou paterno. Os rituais são eficazes quando realizados regularmente, de acordo com as regras do passado e criativamente adaptados ao presente.

Olodumaré, também conhecido como Olorun, Elegda e Elemi, é concebido como o criador da existência, sem identidade sexual e, geralmente, distante, afastado dos assuntos divinos e das coisas deste mundo. É a fonte de ASHE, força na vida presente em tudo que existe e que, segundo a vontade de Olodumaré, uns possuem mais que outros.

ORUN, o outro mundo, é habitado pelo sagrado e povoado por forças incontáveis, tais como orixás, ARA ORUN (ancestrais) e ORO, IWIN, AYOGUN e EGBE (vários espíritos) que estão perto da vida e, freqüentemente, envolvidos nos problemas humanos.

Estes poderes, orixás e espíritos possuem, como os humanos, energias negativa e positiva, ou seja, defeitos e virtudes. Só diferem no seu modo de proceder e atuar sobre a vida, atualizando, acrescentando ou diminuindo o ASHE. Cada um destes poderes tem características próprias que são expressas por sua personalidade e natureza. Essas forças, geralmente, entram no mundo através de médiuns ou instrumentos, que foram treinados e preparados para receber o espírito de suas divindades, durante os transes de possessão, no desenvolvimento de ritos religiosos. Quando estes poderes se manifestam ,deste modo, falam com seus devotos, rezam e dão conselhos.

Enquanto essas forças, periodicamente, viajam ao mundo, dois poderes sagrados, IFÁ e ELEWARA, ficam entre os reinos de ORUN e AYÉ, ajudando na comunicação entre o divino e o humano. IFÁ, na realidade, é um sistema ou oráculo de adivinhação presidido por ORUMILÁ, seu misterioso fundador deificado, também chamado IFÁ. ESHU ou ELEWARA é o divino mensageiro e ativador.

IFÁ oferece aos humanos a possibilidade de conhecer as forças que estão atuando em situações específicas ou em suas vidas e influência o curso dos acontecimentos, através de conselhos, avisos e sacrifícios. O adivinho é denominado BABALAWO, que significa “pai dos segredos”. Ele utiliza os rituais e os versos de IFÁ para identificar forças ou energias, orixás, ancestrais, espíritos e manobras dos inimigos da humanidade, personificados pela morte, doença e desgraça.

IFÁ, também, identifica e sabe como anular entidades perturbadoras, tais como os chamados EGBE ABIKU. Eles são espíritos de crianças, que podem causar a morte de recém-nascidos e renascer freqüentemente, vindo a perturbar a existência dos pais, até que rituais e oferendas, feitas através de IFÁ, possam acertar esta situação.

IFÁ, através da interpretação de seus versos, também identifica pessoas diabolicamente intencionadas, comumente conhecidas como ARAYE (pessoas do mundo), que incluem bruxas e magos.

IFÁ é um oráculo muito antigo, que teve sua origem no Egito, migrou para a África Oriental, onde se estabeleceu e se desenvolveu até os dias de hoje. Através do tráfico de escravos se fixou, também, na América, principalmente, em Cuba e no Brasil.

Este oráculo conta com 256 signos ou ODUN de IFÁ, cada um com pelo menos 101 versos ou histórias, através dos quais os BABALAWOS interpretam o passado, o presente e o futuro, seja de pessoas, famílias, grupos ou comunidades.

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