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Oráculo de Ifá

O termo Ifá se limitou ao sistema divinatório tal como existe entre os yorubás da Nigéria. É muito importante explicar isto desde o inicio, já que existem sistemas divinatórios similares entre os Igbo, os Nupe, os Gwari e os Yukun da Nigéria, assim como os yorubás do Togo, Daomé, Cuba e Brasil.

Ao deus da sabedoria yorubá se denomina Ifá ou Orunmilá, sendo ambos centro de divergências. Um grupo de estudiosos, sustenta que o nome Orunmilá se refere à divindade e o nome Ifá somente ao sistema adivinatório. Já outro grupo de estudiosos, sustenta que Ifá e Orunmilá são a mesma divindade, só que Orunmilá seria a própria divindade, enquanto Ifá seria tanto a divindade quanto o sistema adivinatório.

Vários mitos sobre Ifá afirmam que ele, junto com outras divindades principais, desceu do céu à terra e chegou primeiro a Ifé, que os yorubás consideram o berço da humanidade. Os orixás foram enviados do céu até Ifé, antes de tudo, para estabelecer a ordem na jovem terra. Ifá desempenhou um papel muito importante neste ordenamento divino, devido à sua grande sabedoria.

Durante a estada de Ifá em Ifé, este viveu num lugar chamado Oke Igeti. É por isto que uma das formas de invocá-lo é “Okurin kukuru Oke Igeti” (o pequeno homem da colina Igeti).

Um grande conhecedor deste tema, chamado Sowande, nos adverte de que não devemos pensar que o Ifé a que se faz referência neste mito seja a cidade atual. Ele nos lembra que, como temos um Ilé-Ifé na Nigéria Ocidental de hoje, é muito compreensível que as pessoas pensem que é o mesmo Ilé-Ifé que aparece na tradição oral, referindo-se à terra dos yorubás.

Enquanto as opiniões continuam divididas quanto à localização de Ifé, pesquisas revelaram que o Ilé-Ifé da tradição deve ter sido num lugar muito diferente do atual.

Um verso de Ifá faz referência a sete cidades chamadas Ifé. A primeira, e possivelmente a original, é Ifé O Daye. As outras são Ifé Niere, Ifé Oyelagmoro, Ifé Wara, Otu Ifé, Ifé Oré e Ifé Oyó.

Os mitos afirmam que, depois de uma longa estadia em Ifé, Ifá se transferiu para Adó. Talvez esta seja a razão pela qual existe o verso “Adonile Ifá” (Adó é o lar de Ifá), ainda que não se saiba a qual dos Adó presentes na literatura oral yorubá se refere este mito, se a Adó Ekiti ou Adó Awayé. No entanto, o corpo literário de Ifá inclui tantos nomes da zona de Ekiti que todos se inclinam a pensar que Adó Ekiti seja o mais provável.

Estes mitos nos dizem que Ifá teve oito filhos e muitos discípulos, aos quais ensinou os segredos da adivinhação. Os oito filhos nasceram enquanto Ifá vivia em Ifé. Todos chegaram a ser importantes e depois se dispersaram pela terra yorubá.

Conta-se que, por uma grande desobediência de um de seus filhos, Ifá voltou para o céu a mando de Olodumare, Deus todo poderoso. Foi quando então, faltando a grande sabedoria de Ifá, se produziu na terra uma grande confusão. A fome e as epidemias faziam estragos em toda a terra. As calamidades foram tão grandes, que o ciclo de fecundidade dos seres humanos se interrompeu: as mulheres grávidas deixaram de parir e as mulheres estéreis continuaram estéreis.

Depois de algum tempo, os habitantes da terra decidiram encontrar um remédio para seus sofrimentos, enviando os oito filhos de Orunmilá ao céu para que rogassem ao pai que voltasse à terra. Os filhos assim o fizeram. Quando chegaram no céu, acharam Ifá ao pé de um dendezeiro, ao qual ele já havia subido muitas vezes, e que estendia suas folhas em todas as direções, até formar dezesseis ramos em forma de concha. Rogaram a Ifá que voltasse à Terra, mas este se negou. No entanto, Ifá deu a cada um dos filhos dezesseis nozes de dendê e disse:

“Quando estiver de volta a casa, se quiser ter dinheiro, esta é a pessoa que deve consultar.
Quando estiver de volta a casa, se quiser ter esposa, esta é a pessoa que deve consultar.
Quando estiver de volta à casa, se quiser ter filhos, esta é a pessoa que deve consultar.
Quando estiver de volta à casa, se quiser ter roupas na terra, essa é a pessoa que tem que consultar.
Todas as coisas boas que queira ter na terra, essa é a pessoa que deve consultar.”

Quando os filhos de Orunmilá regressaram à terra, começaram a usar 16 nozes de dendê para adivinhar. As dezesseis nozes eram o símbolo da autoridade que lhes havia dado Ifá para que adivinhassem na sua ausência. As dezesseis nozes de dendê, conhecidas como Inkini Ifá, são utilizadas como parte importante do sistema adivinatório de Ifá até nossos dias. Já não importava que Ifá estivesse ou não na terra, pois seus filhos e discípulos podiam comunicar-se com ele por meio dos Inkini Ifá e outros instrumentos de adivinhação.

Gostaria de ressaltar que, além desta teoria ou mito de Ifá , existem outras versões que diferem desta que apresentamos.

Em grande parte da terra yorubá, Ifá é a divindade de maior importância. Os sacerdotes de Ifá asseguram que ele é o deus yorubá mais importante. Vários mitos do oráculo de adivinhação de Ifá respaldam este ponto de vista. No entanto, não é possível demonstrar isto de maneira conclusiva. Ao perguntar aos que acreditam em cada uma das divindades yorubás de importância, vemos que cada grupo assegura que o seu orixá é o mais importante. Acreditamos que Olodumaré deu a cada orixá uma tarefa junto à humanidade e nenhum deixa de ser importante.

Aqui já existem alguns babalawos brasileiros, consagrados em Cuba por babalawos cubanos, e outros tantos consagrados aqui mesmo no Brasil, e um grupo bem grande de Awo Fakan e Kofá Fun, além de oriates iniciados na religião. Awo Fakan é a denominação do iniciado homem que, através de uma cerimônia, conhece seu odun ou signo de Ifá. Este signo vai indicar sua trajetória religiosa, se pode ou não chegar a se consagrar como babalawo e quais são seus orixás de cabeça. As mulheres que se consagram, as Kofá Fun, tornam-se “apetebi” de Orunmilá, responsáveis pelo cuidado dos assentamentos de Ifá e ajudantes inseparáveis do babalawo.

Aproveitamos para comunicar-lhes que estamos formando uma Sociedade de Ifá, onde esperamos de braços abertos todos aqueles que acreditem e queiram aprofundar seus conhecimentos religiosos. Como porta-voz, Ifá ajuda a divulgar os demais orixás, ajuda a imortalizá-los. Graças a sua grande sabedoria, conhecimento e compreensão, Ifá coordena o trabalho de todos os orixás do panteão yorubá. Serve de intermediário entre todos os orixás e as pessoas, e entre a pessoa e seus antepassados. É porta-voz e relações públicas de todos os demais orixás yorubás.

O oráculo de adivinhação de Ifá é composto por 256 signos ou oduns de Ifá, cada um com pelo menos 101 patakin ou histórias, que contêm as complexidades da vida no presente, passado e no futuro. Os porta-vozes de Ifá são chamados babalawos ou sacerdotes de Ifá, e têm o compromisso e a obrigação de estar bem preparados para poder levar as mensagens de Ifá com clareza a todo necessitado.

A capacitação dos sacerdotes de Ifá é um exemplo de supremo sacrifício e força de vontade. É uma prova eloqüente de onde a memória do homem pode chegar. Existindo a necessidade imponente da ética e compromisso com Ifá, todos os orixás e entidades para que a relação sacerdote – consulente seja produtiva e verdadeira.

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